domingo, 10 de junho de 2012

Poros

Deslizei meus lábios pelo seu corpo e senti o cheiro de seus segredos mais farpados,os que saíam de seus poros, dilatados, entre o arfar incessante de seu peito e o hálito quente que me acertava o rosto.
Dei-lhe um abraço forte, qual uma besta fera junto a sua carne, com a intenção de tornar-nos um, e só um, ou de lhe absorver e você desaparecer em mim num gozo derradeiro, frustrado com a perda da eternidade.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Deixe-me. Deixe-te.
Confudamo-nos, simplesmente.
Sinto-te em mim. Olho-te toda
e tu me sorris apertando os olhos e a ti em mim.
Ai, sê assim, sempre, e tenhas
toda esta candura eternamente.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Forjando insônia II

Abro a garrafa e a levo à boca. Sinto o líquido gelado escorrer lentamente porminhas vísceras e enfim terminar guardado no estômago vazio.
Meus olhos enrubrescem e os sentidos vão se enturvando. O frio já não é mais tão frio. Já eu, pareço ser mais eu que em outrora.
Assim, assomo em mim mesmo. Assim,sigo sozinho pela noite. Fujo das luzes dos postes e adentro ao beco escuro. Nada mais se vê. De tudo a noite tomou conta.

domingo, 29 de abril de 2012

Forjando insônia

Deixe-me em paz. Suma de mim ao menos nesta madrugada. O frio e o álcool me são companhias suficientes.
A música não cessa. É uma, apenas, que se repete infinitamente em seu solo de guitarra avassalador. E, de repente, um grito após um silêncio premeditado.
Ai, você, distante, uma imagem turva na memória. Estou sem foco, é verdade, por isso bebo o vinho no gargalo mesmo, sem desperdiçar uma gota sequer. O que eu preciso é dormir. Essa pequena morte de todo dia, como dizem, para nascer com alguma pretensão de esperança qualquer enfim.
A garrafa ainda está na metade. Ainda posso resistir. É como regar a angústia, nutrir a inquietude.
São quase cinco horas da manhã. Preciso de um desmaio implacável. Preciso mesmo é aceitar o sono de uma vez. Assim a verei, etérea, sem precisão, mas, ainda assim, ela. É o que resta: entregar-me.

domingo, 1 de abril de 2012

Picada

Amanheci num sonho grande, imenso.
Amanheci eu mesmo, vislumbrando um caminho cerrado.
E aí percebi que estava de fato caminhando
e reto.
E sempre caminhando.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

noturna

celebro tanto a solidão
muito
mas,no final, não é aquele silêncio de shakespeare ou de veríssimo:
são braços rotineiros,
de toda noite,
os que me faltam agora.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Agora

Ah, Romina, já não me lembro mais de você. Seus cabelos e seus olhos já perderam as cores em minha memória. Não a culpo por nada, é claro, não me leve a mal. Você fez o que deveria ter sido feito, mesmo.
Eu simplesmente preferi renegar todo esse fado com intenção de eternidade. A verdade é que sou inconformado com aquilo que chamam de "predestinação". Eu juro que não aceito essas coisas tão exatas, infalíveis. Desconfio de tudo.
Você partiu e eu sofri. E pronto e acabou. Agora a tenho em meu rincão mais profundo, na região governada pelo olvido. E assim você segue a se diluir em meu sangue, até não ter mais gosto.
Olha, Romina, não me creia vingativo ou atroz (devo ter exagerado), mas tudo aqui é verdade, cada vírgula e cada ponto. Quantas noites de insônia, deitado na cama, a mirar o teto do quarto, num escuro imprestável, eu lhe via sorrindo! Mas agora eu durmo tranquilo; um sono bem pesado. É tudo sossego após eu ter eclodido do ovo claustrofóbico em que me encarcerei por uma temporada infernal.
Hoje o mundo me pertence. Sou o rei daqui. É fevereiro e o carnaval já vem. E sigo me depurando do que ainda restou, do que ainda teima em existir.