quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Agora

Ah, Romina, já não me lembro mais de você. Seus cabelos e seus olhos já perderam as cores em minha memória. Não a culpo por nada, é claro, não me leve a mal. Você fez o que deveria ter sido feito, mesmo.
Eu simplesmente preferi renegar todo esse fado com intenção de eternidade. A verdade é que sou inconformado com aquilo que chamam de "predestinação". Eu juro que não aceito essas coisas tão exatas, infalíveis. Desconfio de tudo.
Você partiu e eu sofri. E pronto e acabou. Agora a tenho em meu rincão mais profundo, na região governada pelo olvido. E assim você segue a se diluir em meu sangue, até não ter mais gosto.
Olha, Romina, não me creia vingativo ou atroz (devo ter exagerado), mas tudo aqui é verdade, cada vírgula e cada ponto. Quantas noites de insônia, deitado na cama, a mirar o teto do quarto, num escuro imprestável, eu lhe via sorrindo! Mas agora eu durmo tranquilo; um sono bem pesado. É tudo sossego após eu ter eclodido do ovo claustrofóbico em que me encarcerei por uma temporada infernal.
Hoje o mundo me pertence. Sou o rei daqui. É fevereiro e o carnaval já vem. E sigo me depurando do que ainda restou, do que ainda teima em existir.

2 comentários:

Anônimo disse...

Gusta, o rei.

Cecília disse...

Sabe a teoria do Hermann Hesse, em Demian? "A ave nasce do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer tem que destruir um mundo".

Então.