quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Lembrança de Romina

Sempre pensei que estava tudo certo. Rejeitei a ordem e a parcimônia, ainda que não vivesse cego no exagero. Engraçado, mas passei a pensar toda a minha vida a partir de um fim. Não como Brás Cubas, quando fantasma, mas após o término de um relacionamento. Espero, com toda sinceridade, não cair num tremendo clichê, enfadonho até para uma novela das nove.
O que é certo, e não há dúvida, é que sou a própria contradição. "A contradição encarnada!", é o que eu diria de mim mesmo, numa mesa de bar, gesticulando em minha eloquência embriagada. Pior que agora me vejo como um idiota. Caricato! Eu não cria nos poucos que me alertavam. Mas agora quero me despir: nu, para depois vestir outras roupas mais cômodas. Ou será que já começo a exagerar num dramalhão imbecil?
Estou sereno, apesar de um vazio estranho. Quedei-me num hiato de indecisão. Ai, senhores, faz-se necessário me expor assim numa catarse? Sequer vontade de abrir uma garrafa de vinho me assoma nesta noite intranquila. É certo que eu poderia estar numa situação até pior, aos prantos, esbravejando infâmias! Mas ela tinha razão, no fundo. E eu também em minha superfície. Acontece que me perdi em minhas profundezas. Deve estar lá o fio de sensatez, como eu podia ter sido, e não fui. Não fui buscar-me sequer.
Gostaria de um despertar trevisaniano e deixar que a carne me conduza noite à fora. Queria aguçar meus sentidos num gozo interminável e inconsequente. Infelizmente alguma coisa em mim não me permite: puxaria-me de volta à correição. Eis aí a minha desdita. Fico de lá-pra-cá; indo e vindo; entre o silêncio e o escândalo; discrição e estupor. E o que me sobra, no fim, é o sono e a promessa de um outro dia.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Constância

Tudo é eterno
até o apagar-se em si
e nunca mais.

domingo, 29 de maio de 2011

Olhando a cidade

Abri a janela para sentir o cheiro da noite fria. À frente, uma névoa púrpura a cobrir o pico do Itacolomy. As luzes das casas do bairro que fica aopé da montanha trmulam sonolentas. Minhas vista cansada reclama um sono que ainda não quis vir.
Medito qualquer confusão que queira me assolar. Desta vez são muitas,e todas me assomam num turbilhão. Um desassossego tedioso que me dói a cabeça.
Ainda me resta um gostinho de caféna boca. Espero criar coragem para escovar os dentes antes de dormir - ah, como queria ser metódico! Minha vida é um eterno improviso. Talvez eu devesse estar cursando Artes Cênicas. Não sei. Queria sossego em minha alma. Se ao menos tivesse uma garrafa de vinho aqui. Beberia toda a garrafa e logo o sono me arremataria num bom descanso.
Ando insatisfeito e ligeiramente frustrado. Sou sempre assim? Fantasio demais? Queria por fim a tudo e recomeçar. Recomeçar-me a mim. Exagero de primeira pessoa. Mas não o consigo. Nem mesmo este texto será refeito.

sábado, 2 de abril de 2011

Voltou pra casa apenas para rasgar o que havia escrito. Uma vontade louca de picotar tudo para então começar outra coisa, totalmente diferente. Uma caneta de outra cor, um papel de outra qualidade. Criar-se em outro personagem;acrescentar outros novos. Depois partir,sumir. Sem volta.

domingo, 27 de março de 2011

Retorno às montanhas

Agora as montanhas me cercam comedidas, com receio e com um certo carinho. Talvez arrependidas. Chorosas.
Tratam-me com muito zelo. Chovem um choro fino, mas, à tardinha, um toró soluçante revela um insuportável peso na consciência.
Eu não sei se acredito nisso tudo.
Eu sei que tudo é adoravelmente estranho e novo. Devo estar gostando. E ainda tem o frio fora da época.
Algo sem muita sinceriade. Espero que seja eu.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

De bar em bar

Chegou esbaforido empunhando uma peixeira. Era um desses tais "cabra macho", lá de cima, de Sergipe. Mais ainda: do sertão, na beira do Velho Chico.
Parou a batucada, cessou o ronco da cuíca e a mulatada deu um verdadeiro breque e se danaram a espernear.
Já entrou rodando feito um cangaceiro azucrinado. Parecia aquele tal do cinema.
Rodou e rodou. Rodou tanto que caiu no chão. Mas logo se levantou. Perguntou por "ele". "Cadê ele?" O pessoal ficou sem saber o que falar. "Cadê?", e eu sei lá! "Cadê aquele cabra safado? Aquele fio de uma gata-que-ronca!?" Piorou, ninguém deu um passo à frente -ninguém sequer piscou. "Apareça, seu peste!"
Uma tensão danada. Viam-se alguns olhos lacrimosos, femininos, diga-se.
Tão triste ver um samba murchar. E quão terrível é ver um cangaceiro doido e bêbado ameaçando alguém. Ave-Maria! É hoje o dia...
O virgulino embriagado olhou nos olhos da negada da banda, nos das crioulas, nos de todo mundo. De repente, a outra mão, a que estava abanando, foi à cabeça. Coçou-se, com uma cara de besta que dava dó. "Errei o bar..."
O do pandeiro até tentou voltar a tocar, mas não conseguiamanter o ritmo. "Tremedeira danada, rapaz".

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Ode a Linhares (fale rápido)

Esta cidade é pouca. É pequena como seus habitantes, todos. Todos eles.
É tudo muito artificial, planejadinho para seu rebanho. Tudo muito reto, sem curvas, sem o mal feito perfeito.
Quarteirões e mais quarteirões, sem graça alguma. Apenas um lampejo de exuberância - é certo que uma exuberãncia bem decaída, caída aos pedaços, assim é a verdade -: um casarão do século XIX, que, em momento de glória, gaba-se por ter hospedado Getúlio Vargas.
As ruas largas não dizem nada: mudas, frias e sem paixão. Apenas carros as gozam, com um prazer de máquina poluidora, é óbvio. Somente eles, que não sorriem e nem choram.
A gente daqui tem a hospitalidade de quem não tem hospitalidade. Sorrisos reservados. Colonos de agora, tardios, a olharem torto para os de há muito e os de sempre.
Tanta lagoa, tanto óleo e tão distante um lado do outro da rua. Vou ter de atravessá-la. Mas espero que ela não me fique atravessada pela garganta.
Linhares, vou-lhe tossir!
Linhares é de mentirinha, é encaixada, é para um menino gigante brincar de carrinho.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Movimento dos barcos

- Não tenho um lugar para me encontrar aqui. Nesta cidade - e em outras mais -, me sinto impotente. Não há uma praça frondosa; não há uma praia onde apenas o mar sussurre; nem uma varanda com uma rede. Já não tenho marca de abraço - aquela que mais gosto. Eu estou cansado, esta é a verdade. Preciso sair. Pra lugar nenhum. "E suportar a vida como um momento além do cais."

domingo, 16 de janeiro de 2011

Lá no Pier 21

Cheguei e pedi uma gelada.
Amigos ao redor da mesa de sinuca. Cada qual com seu copo à mão. Brindamos. Encaçapou-se uma bola. Depois foram todas. Repete-se. Pedi um Wander Wildner e um Faichecleres. Claro que não havia disco deles. "Então bota um Roberto!". Não sou grande fã do Roberto, mas encarno um com certa perfeição.
Rimos todos com o pedido. Acabou que todos começaram a cantar as canções do Rei. Todo mundo diz que não gosta, porém acaba cantando, ou mesmo imitando.
Em Aracaju sempre se dá um jeito.