quinta-feira, 18 de março de 2010

O vôo da Maritaca Devassa.

Nesta noite fria, resolvi voar rumo ao ninho das maritacas, as famosas maritacas devassas. Estavam lá debaixo das suas cobertas de penas, assistindo a uma dessas novelas bestas e comentando suas pequenas luxúrias cotidianas.
Cheguei calado e saí mudo, eu, pobre bem-te-vi do peito amarelado de fome. Deram-me pouco valor durante os poucos minutos em que esperei a maritaca devassa dissidente. Uma outra maritaca comentou seu sentimento repentino: "Aaaaaaaah! Um dia, ainda ei de encontrar um formoso papagaio que me mime num xamego sincero e que me ame muito." Depois, virou-se para as outras trepadeiras e enunciou uma cláusula: "Mas isso vai depender se eu o amarei de verdade também..." E, numa risada safada, voltou a ver a sua novela besta.
É uma peste esse lugar, esse ninho. Ademais, cheira a subaqueira de tucano e a bafo de papagaio bêbado. Bastante desagradável, eu diria. Diria mais: um porre!
Regressei às terras baixas junto àquela maritaca devassa dissidente, ou nem tão dissidente assim, já que o sangue nunca poderá negar essa qualidade. Bem que vi.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Umidade

Talvez seja isso, agora, a incerteza do ser.
Esquecer-me em mim
e de mim.
Já dizia Gramsci que, entre a morte do velho e o nascimento do novo,
há um singular momento chamado, por alguns, de "crise", em que...
Crise? Mas parece tão inédito tudo isso: sons novos, horizonte novo, montanhas e nuvens tão diversas e um saudosismo por insegurança.

Coisa de tarde chuvosa.
Chuva grossa e pesada que nos aprisiona num exílio seco e que nos inunda de e com qualquer coisa.