sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

De bar em bar

Chegou esbaforido empunhando uma peixeira. Era um desses tais "cabra macho", lá de cima, de Sergipe. Mais ainda: do sertão, na beira do Velho Chico.
Parou a batucada, cessou o ronco da cuíca e a mulatada deu um verdadeiro breque e se danaram a espernear.
Já entrou rodando feito um cangaceiro azucrinado. Parecia aquele tal do cinema.
Rodou e rodou. Rodou tanto que caiu no chão. Mas logo se levantou. Perguntou por "ele". "Cadê ele?" O pessoal ficou sem saber o que falar. "Cadê?", e eu sei lá! "Cadê aquele cabra safado? Aquele fio de uma gata-que-ronca!?" Piorou, ninguém deu um passo à frente -ninguém sequer piscou. "Apareça, seu peste!"
Uma tensão danada. Viam-se alguns olhos lacrimosos, femininos, diga-se.
Tão triste ver um samba murchar. E quão terrível é ver um cangaceiro doido e bêbado ameaçando alguém. Ave-Maria! É hoje o dia...
O virgulino embriagado olhou nos olhos da negada da banda, nos das crioulas, nos de todo mundo. De repente, a outra mão, a que estava abanando, foi à cabeça. Coçou-se, com uma cara de besta que dava dó. "Errei o bar..."
O do pandeiro até tentou voltar a tocar, mas não conseguiamanter o ritmo. "Tremedeira danada, rapaz".

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Ode a Linhares (fale rápido)

Esta cidade é pouca. É pequena como seus habitantes, todos. Todos eles.
É tudo muito artificial, planejadinho para seu rebanho. Tudo muito reto, sem curvas, sem o mal feito perfeito.
Quarteirões e mais quarteirões, sem graça alguma. Apenas um lampejo de exuberância - é certo que uma exuberãncia bem decaída, caída aos pedaços, assim é a verdade -: um casarão do século XIX, que, em momento de glória, gaba-se por ter hospedado Getúlio Vargas.
As ruas largas não dizem nada: mudas, frias e sem paixão. Apenas carros as gozam, com um prazer de máquina poluidora, é óbvio. Somente eles, que não sorriem e nem choram.
A gente daqui tem a hospitalidade de quem não tem hospitalidade. Sorrisos reservados. Colonos de agora, tardios, a olharem torto para os de há muito e os de sempre.
Tanta lagoa, tanto óleo e tão distante um lado do outro da rua. Vou ter de atravessá-la. Mas espero que ela não me fique atravessada pela garganta.
Linhares, vou-lhe tossir!
Linhares é de mentirinha, é encaixada, é para um menino gigante brincar de carrinho.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Movimento dos barcos

- Não tenho um lugar para me encontrar aqui. Nesta cidade - e em outras mais -, me sinto impotente. Não há uma praça frondosa; não há uma praia onde apenas o mar sussurre; nem uma varanda com uma rede. Já não tenho marca de abraço - aquela que mais gosto. Eu estou cansado, esta é a verdade. Preciso sair. Pra lugar nenhum. "E suportar a vida como um momento além do cais."