quinta-feira, 6 de maio de 2010

Noite pequena

O pequeno rapaz-de-óculos descobriu a maior das descobertas: descobriu-se em suas pequenas profundezas com pretensões de infinito (pretensões). Descobriu a noite mais negra, mais que aquela que vem todos os dias, após o azul de sempre. Encontrou a noite pequenina dentro de si, bem pequenina, mesmo, porém mais escura que qualquer coisa ou noite escura, como antes dito.
E andando foi o pequeno rapaz, com seus óculos óculos de lentes grossas, a perambular pela sua noite particular - a noite era dele, ora! Andou. E andou em círculos. Foram várias voltas em pouco tempo de caminhada, pois suas reentrâncias noturnas eram tão pequenas quanto ele próprio - ou será que aquela noite, no final das contas, era ele próprio?
Foi então que ele sentou no próprio preto. Tentou pensar em qualquer coisa, hipótese, solução... Tinha o queixo apoiado na mão e um olhar triste, tritinho. Acabou pensando em chorar. E chorou. Chorou frio e chorou mudo. Chorou tanto que aquela sua noite choveu. E a chuva choveu, como era de se esperar. O rapaz ficou todo molhado, coitado. Saiu da sua noite para a noite de todos, a de sempre, a de depois do azul de sempre, aonde ninguem entendia aquela água toda, apenas ele.