domingo, 25 de julho de 2010

Sonho

A verdade é que eu sempre quis contar as flores e as borboletas que havia nos cabelos dela. Aquele emaranhado de cachos inundados de um doce perfume de jasmins e margaridas.
Vasta cabeleira que ainda me facina. Quem me dera voltar a este sonho tranquilo que tive há pouco, em que a via correr por entre árvores e cipós de uma mata verde, amarela, vermelha, azul e de tantas cores ainda não catalogadas ou mesmo sonhadas por outrem. Mas havia tanto branco! O branco de um sorriso sincero, pueril.
E as flores lhe caíam dos cabelos, a toda hora, sempre e sempre, e não parava. Como poderiam existir tantas flores a cair? Sua cabeça era uma primavera infinita. Era isso. E quando virou-se e veio ter a mim, parou seus lábios próximos aos meus e falou... Não consegui ouvir ou mesmo entender. Foi então que abri os olhos e me pus aqui a relembrar.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Vagar

Lá vai o homem, seguindo a cambalear pela rua margeada por muitas portas. Trôpego, não percebe a vastidão de olhos que brilham a lhe enxergar. Ele não consegue andar em reta, vê-se; e seus olhos não piscam. Talvez, é verdade, a piscadela lhe faça tombar de uma vez, pois que será esse seu desfecho: beijar o chão imundo.
A cada passo, algo lhe cai: foram-se o chapéu, o bigode e as orelhas. Os cães, obsequisos, agradeceram-lhe os mimos. Mas ele luta e reluta, tentando coordenar as pernas rebeldes. Eis que tropeça. E levanta. Tropeça... Levantou-se com mais dificuldade dessa vez. Caiu. Meteu a cara no paralelepipedo da rua torta. Como que vencido, tenta mirar algum vencedor. Percebe um par de olhos a flutuar na escuridão de uma sacada. Surgem outros pares de olhos profundos. Ele não resiste, sequer tenciona, e cerra os olhos abraçando uma escuridão que não aquela que olhou e que lhe testemunhou. A escuridão que tranquiliza e que sempre amanhece.