terça-feira, 6 de julho de 2010

Vagar

Lá vai o homem, seguindo a cambalear pela rua margeada por muitas portas. Trôpego, não percebe a vastidão de olhos que brilham a lhe enxergar. Ele não consegue andar em reta, vê-se; e seus olhos não piscam. Talvez, é verdade, a piscadela lhe faça tombar de uma vez, pois que será esse seu desfecho: beijar o chão imundo.
A cada passo, algo lhe cai: foram-se o chapéu, o bigode e as orelhas. Os cães, obsequisos, agradeceram-lhe os mimos. Mas ele luta e reluta, tentando coordenar as pernas rebeldes. Eis que tropeça. E levanta. Tropeça... Levantou-se com mais dificuldade dessa vez. Caiu. Meteu a cara no paralelepipedo da rua torta. Como que vencido, tenta mirar algum vencedor. Percebe um par de olhos a flutuar na escuridão de uma sacada. Surgem outros pares de olhos profundos. Ele não resiste, sequer tenciona, e cerra os olhos abraçando uma escuridão que não aquela que olhou e que lhe testemunhou. A escuridão que tranquiliza e que sempre amanhece.

2 comentários:

Cecília disse...

deus protege.

Dario Dariurtz disse...

Ahhhh! Que seja doce... Brigado pelas lindas palavras.