Lá vinha Dona Geralda nos fins de tarde quente à porta de casa. Carapinha branca, oclinhos grossos e o sorriso bonachão. Pisa o chão com um cuidado gentil, de avó doce. Vem falando de Deus e da Mãe-morena - que eu não sabia que era a Aparecida. Convidou-me para entrar.
Mostrou-me o quarto com as inúmeras fotografias dos entes queridos: marido, filha, pai, sobrinho, neto, sobrinho-neto, santa, santo etc.
Foi buscar a água-benta, benzida, a propósito, pelo padre Zezé, famoso aqui, na Vila Rica - e que eu também não sabia.Sorri. A santa água era para a minha fajuta conjutivite, que era, em verdade, irritação qualquer, mas que um amigo bobo me assustou enfatisando a vermelhidão. Ela resolveu misturar a água do padre Zezé com a do outro padre que não me lembro o nome. Disse que ia ficar uma mistura forte.
Dona Geralda é feliz. Ama o amor e me disse que também a mim. Que sensação leve e bonita é a de receber um "ah, eu amo você. Você é um menino bom!" com toda a alegria espontânea do sangue, por mais que não seja lá muito bom ou coisa assim. E depois o abraço. Um abraço materno. Aliás, mais que materno: de avó, bem docinho.
Infelizmente rejeitei o café - a contragosto, sim. Disse-lhe que esperava a entrega de uns medicamentos, que já havia pedido. Ela fez uma carinha de frustração, mas daquelas de quem entende a situação, mesmo sem o querer.
Acompanhou-me até a sua porta. Aos setenta e sete anos, as pernas teimam em querer fazer força, enganam o costume das décadas de se pisar forte o chão e tudo o que tiver de ser pisado. A porta verde se abriu num clarão de tarde. Desci a ladeira, mas antes um "Deus lhe acompanhe" e uma promessa de bênção com arruda para o domingo.
Dona Geralda acompanhou com o olhar o rapaz de um olho fechado.
7 comentários:
eita. tudo bem contigo, gustavo?
Essa história me fez lembrar de uma senhora, Tia Luiza, Sá Luiza, benzedeira da minha cidade.
Tinha uma missão á cumprir: fazer com que as pessoas se sentissem melhores.
Voz calma, já difícil, um dia se deitou e não mais levantou.
Morreu com 120 e poucos anos, é o que dizem.
Virou lenda!
Ada Kiau
pô tão excluindo os comentarios hauhuahua
amor de avó é outra coisa, né *-*
eu amo minha avó!
Aqui em Colatina quem me acode nos momentos de treva é o Seu Carmindo..
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