quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Lembrança de Romina

Sempre pensei que estava tudo certo. Rejeitei a ordem e a parcimônia, ainda que não vivesse cego no exagero. Engraçado, mas passei a pensar toda a minha vida a partir de um fim. Não como Brás Cubas, quando fantasma, mas após o término de um relacionamento. Espero, com toda sinceridade, não cair num tremendo clichê, enfadonho até para uma novela das nove.
O que é certo, e não há dúvida, é que sou a própria contradição. "A contradição encarnada!", é o que eu diria de mim mesmo, numa mesa de bar, gesticulando em minha eloquência embriagada. Pior que agora me vejo como um idiota. Caricato! Eu não cria nos poucos que me alertavam. Mas agora quero me despir: nu, para depois vestir outras roupas mais cômodas. Ou será que já começo a exagerar num dramalhão imbecil?
Estou sereno, apesar de um vazio estranho. Quedei-me num hiato de indecisão. Ai, senhores, faz-se necessário me expor assim numa catarse? Sequer vontade de abrir uma garrafa de vinho me assoma nesta noite intranquila. É certo que eu poderia estar numa situação até pior, aos prantos, esbravejando infâmias! Mas ela tinha razão, no fundo. E eu também em minha superfície. Acontece que me perdi em minhas profundezas. Deve estar lá o fio de sensatez, como eu podia ter sido, e não fui. Não fui buscar-me sequer.
Gostaria de um despertar trevisaniano e deixar que a carne me conduza noite à fora. Queria aguçar meus sentidos num gozo interminável e inconsequente. Infelizmente alguma coisa em mim não me permite: puxaria-me de volta à correição. Eis aí a minha desdita. Fico de lá-pra-cá; indo e vindo; entre o silêncio e o escândalo; discrição e estupor. E o que me sobra, no fim, é o sono e a promessa de um outro dia.