terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O que diria

- Professor, trago péssimas notícias!
- Não.
- O latim morreu.
- Não.
- Também padeceram Roma, os glosadores e Napoleão.
- Não.
- Feche o livro, Mestre. Vamos seguir a marcha à rua!
- Não.
- O Sol já não mais é rei. O povo é rei. Esqueça as doutrinas empoeiradas, as pelejas e todo este oceano que institui a segregação e impede a integração. Sejamos!

O douto professor já nã o ouvia. Na verdade, aquela voz jamais fora emitida e o diálogo, em tom de monólogo, nunca existiu. Foi um pensamento distante, absorto, de um aluno esgotado, que haveria de decorar posicionamentos doutrinários e outras pré-fixações, sacramentos. A prova está chegando e ele crê na inconfidência.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Considerações para o agora feitas pelo operador de blogs

Ela é da geração...qual letra mesmo? Y? Z? Meus pais devem ser da geração coca-cola - a que teve música e tudo o mais. Geração YZ! Ela, então, é da geração YZ. E como tal possui um blog onde escreve suas angústias, reflexões, momentos de alegria e coisas típicas do repertório desta sua geração.
Diante de seu notebook, em mais uma noite de insônia forjada, Ela começa a digitar mais um relato sentimental a ser compartilhado com um seleto séquito de amigos da mesma geração - será que existe algo após a letra Z? talvez seráprecisopegar emprestado algum outro alfabeto, o árabe ou o chinês.
"Saudade", começa assim tão nostálgico o dito post, "de antigamente (época boa que não voltamais), das alegrias e dos sorrisos soltos e amarelos. Queria rebobinar a minha vida". Acredito que tenha ocorrido um erro de digitação desta transcrição aqui, já que esse verbo "rebobinar" não existe mais. Pertencia a outra geração... V! V de aparelho VHS, aliás, de VHS apenas. Mas são tantas letras em VHS... Enfim chamemo-a de geração VHS.
Dizia a jovenzinha que morria de saudades de outrora. Isso é triste, mas como já dizia Belchior - membro de uma geração a qual não me arrisco procurar na sopa de letrinha - que "o novo sempre vem".
Noutro dia reclamou de um certo membro de uma geração anterior que lhe quis alguma coisa, não se sabe bem o que. Ele procurou, procurou e parece que não achou o que queria. Ou talvez apenas um contato era o que intentava: trocar experiências, alertar sobre algo ou ouvir algum disco juntos. Afinal, os velhos bolachões de vinil voltaram. Os toca-discos (ou como diriam Belchior e meu avós, as radiolas) tornaram-se instrumentos desta geração YZ.
Em verdade, há um engano. Os bolachões pertencem agora à geração X, aquela que ainda alcançou Jiraia, os Trapalhões e o Sérgio Malandto fazer programa com a Mara Maravilha -no bom sentido, claro. Estes da geração X são os verdadeiros retrôs pós-modernos.
Mas voltemos a Ela. Tão bonitinha e com dedos tão frenéticos - de fazer inveja às mais experientes datilógrafas. Começou a teclar sem parar, como que num vômito literário - apenas como, não há pretensões para tal, não se quer ou não se pode, o que é o mais provável.
Ela não para. Quem sabe mesmo perdera o controle de seus dedos, quem sabe para sempre. Ficará digitando eternamente. Jogará palavras em frases vazias e imprecisas. Falta algo para YZ. Esperemos que o tal twitter amenize o excesso de nada.