quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Prezado "escritor"

A mesma noite, a mesma garrafa de vinho, frente à mesma tela de computador, a fazer a mesma coisa de sempre. Será que existe poesia nessa dita pós-modernidade apoética? O que se quer dizer com isto? Alguém já disse isto? Ele realmente não sabe. Nem ao menos intenta pensar sobre essas frases vomitadas.
Já pensou ser um grande escritor? Ele já. Tanto o fez que vive bebendo café ou vinho e se imagina em paisagens literárias, coitado. Agora, você, leitor, deve estar pensando "mas que narrador filho de uma puta!", certo? Eu também penso o mesmo. Mas tudo é verdade. Ora, um sujeitinho qualquer, que bebe uma garrafa de vinho caro - o chamado belo rebento da classe média sonhadora, se é que alguem diz isso também, além deste narrador filho-de-uma-pobre-mulher-ultrajada, segundo o mesmo - e que fica de conversas banais no mesenger e que pretende virar escritor... ah, doce ilusão! De tão doce lhe fez cair os dentes (terrível isso, nunca escreva uma merda desta). Tamanha pretensão! Maldito século de perspectivas frustradas.
O pseudo-escritor-sonhador, e agora bêbado, não sabe mais o que rabiscar. Devo cutucá-lo. Provocá-lo. E o que faz com esse livro do Hemingway fechado? quer sê-lo? Não pode, meu querido. Escreva suas estorinhas nesse seu blog, e nada mais.
Neste século (de novo essa repetição, essa tragédia do tempo), qualquer um pode ser escritor. Cria-se um blog e se escreve poesia, conto, besteira e merda ao bel-prazer. Mas há quem se dê bem, dizem, você me disse.
O vinho acabou, escritor? Apenas até aqui consegue escrever? Muda a música e vai na geladeira encher o copo novamente, assassine o vinho nesse copo americano mais uma vez! E agora pense numa tragédia. Refaça a Grécia, por menos que a conheça. Esse é um ponto trágico, escritor. Você sempre soube que os grandes leram bem os gregos. E você? Você nem conseguiu ler todos os trabalhos de Hércules por inteiro.
E a musa, tem? Não. Pobre... Chega de troças, não quero ver lágrimas vertidas. Mas nem ao menos uma morena para se exaltar... Vá ver um filme e se encante por uma dessas frncesas de cabelo curto, bem negro. Escreva uma homenagem a ela, meu caro. Aliás, invente-a, assim como o faz para si próprio.
Quem nos dera uma pequena francesa agora, hã? Você nem em uma morena daqui consegue pensar. É decadente. Lamentável..
Cansei de você, escritor. Cansei de dizê-lo.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Subte

Entrou no metrô e teve sorte de encontrar um espaço vago no banco vermelho. Mais que sorte, talvez um milagre. Nada mais desagradável que pegar o metrô às 18 horas - aliás, há coisa pior: fazê-lo todos os dias. Ao menos houve o milagre de hoje, terça-feira de calor infernal.
Ela sentou entre um senhor gordo e barbudo e uma velhinha de óculos redondos. Todos calados - e mais ainda ela. Estava cansada. Sentou-se, na verdade, com um olhar melancólico - ou indiferente, aqueles olhos não foram tão claros, ainda que bem verdes. E apoiava seu queixo na palma da mão com os dedos subindo à bochecha. Apenas seus olhos se moviam, o resto era estático. Aliás, seu corpo inflava ao respirar, mas era quase imperceptível, apenas um olhar insistente para percebê-lo.
De repente um sorriso. Fechou os olhos e passou a mão desde a testa até os cabelos, arrumando-os. Que boa lembrança teria sido aquela?
As possibilidades são infinitas.... Ela desceu em Angel Gallardo.